Um dos maiores desafios para o desenvolvimento brasileiro é manter o crescimento da produção agropecuária preservando seus recursos naturais. Esse dilema surge em meio aos debates internacionais e às pressões cada vez maiores da sociedade por um novo modelo produtivo mais saudável. Bem recentemente as políticas governamentais para o setor agropecuário começaram a prestar mais atenção nas questões relativas à sustentabilidade ambiental e a estabelecer programas e metas com esse objetivo.
O manejo na agricultura brasileira caracteriza-se, especialmente, pelo uso de fontes de fertilizantes solúveis que agem rapidamente no aporte nutricional da planta, porém, em sua maioria, são importados, não renováveis, caros e causam diversos efeitos colaterais. Historicamente, por questões culturais e pela abundância de recursos naturais, não nos preocupamos com questões ambientais, somos exploradores.
O uso indiscriminado de fontes químicas de adubação ao longo de muitos anos de exploração agrícola no Brasil afetou um recurso importantíssimo do nosso patrimônio: o solo, que hoje é de baixa fertilidade, ácido, salinizado e profundo. Algumas regiões do país chegaram a flertar com o processo de desertificação, como é o caso do oeste paulista e suas pastagens, segundo um estudo da Universidade Federal de Goiás. A boa notícia é que o solo está entre os recursos que podem se renovar.
Sustentabilidade
É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro
O produtor rural é sempre pressionado a produzir mais. Muitas vezes a pressão vem dos fornecedores de insumos que prometem alta performance produtiva desfocando a conversa dos custos. Os custos são vários e nem sempre diretos, é difícil perceber o que se “paga” para produzir mais. Porém, a conta sempre vem. As mudanças climáticas e a baixa qualidade nutricional dos alimentos produzidos são exemplos de “custos” desse tipo de manejo irresponsável. A natureza cobra caro.
Há um bom tempo, ambientalistas e produtores rurais tradicionalistas travam embates acerca dos manejos ideais para nossas lavouras. Uns querem produzir de maneira saudável e preservar todos os recursos naturais, outros querem a maior produção agrícola possível a qualquer custo. Ambos são carentes de empatia e dificultam a sinergia para a resolução de um problema que é de todos.
Quem vem resolvendo essa pendenga é o produtor cansado de cada vez ter que investir mais em insumos para produzir o mesmo e, por vezes, menos. Esse produtor de tanto tentar, por fim acaba descobrindo novas técnicas que estão levando, naturalmente, a agricultura na direção de práticas mais sustentáveis. Não por propensão ambientalista, mas porque está percebendo que pode ser mais eficiente em sua lavoura. A remineralização ou a rochagem é um exemplo de técnica que está ganhando holofotes por conta de bons resultados conseguidos no campo. São agricultores que buscaram, em um método antigo, alternativa para o uso excessivo de insumos químicos.
Remineralização
Na Alemanha em 1898, Julius Hensel publicava o livro “Pães de Pedra” que tratava do uso de pós de rocha para adubação de lavouras. Há muito tempo se sabe dos efeitos positivos da utilização de rochas no condicionamento do solo. Porém só recentemente é que esse tipo de técnica saiu do pacote de manejo que, preconceituosamente, era destinado aos “bichos grilos”. Acreditava-se que não era possível a coexistência de métodos sustentáveis e alto rendimento produtivo.
Por volta de 2017, em Goiás, nascia o grupo GAAS que unia produtores rurais cansados de obedecer aos caprichos das grandes multinacionais de insumos agrícolas. Este é um grande exemplo sinalizador de que o agricultor brasileiro está se convencendo que precisa mudar.
Dentro da missão do GAAS está a seguinte frase: Nossa motivação é tirar os agricultores da dependência dos “pacotes prontos”, caros e muitas vezes inadequados às condições tropicais de produção.
Hoje a rochagem desponta como a base de um pacote tecnológico que visa à vida no solo. Esse conceito está fundamentado na ideia que um solo vivo é o ambiente ideal para o crescimento da vida vegetal.
A “onda” sustentável demonstra que veio para ficar, pois os resultados são impressionantes.
Vários são os benefícios de aderir a esse tipo de manejo que atende ao produtor tradicionalista que quer produção acima de tudo e ao ambientalista que quer preservar, pois a remineralização permite produção de alto nível sem nenhum efeito colateral. Atende, acima de tudo, a população que não para de crescer e quer produtos melhores e mais baratos sempre. Tudo isso em um mundo que possa habitar com saúde. Nos resta torcer para que a onda realmente não passe.